segunda-feira, 13 de junho de 2011

A Pessoa que Me Queira Escutar

 



Ofereça-me liberdade para que eu possa usar minhas mãos, meus pés e todos os meus sentidos com plenitude.




Ofereça-me desafios para que os enfrente, desfrute e aprenda com eles, podendo crescer em experiência e segurança.


Ofereça-me independência ajudando-me naquilo que não posso e estímulo em fazer aquilo que posso.

Ofereça-me limites como a todas as crianças para que eu possa crescer como pessoa.

Ofereça-me exigências para que eu possa mostrar toda a minha capacidade.

Ofereça-me igualdade de oportunidades para que eu triunfe na vida de acordo com meus esforços e perseverança.

Ofereça-me uma bengala e incentiva-me a usá-la, para não depender de bengalas humanas.

Ofereça-me apoio e não ocupar-se por mim.

Ofereça-me amor apesar de minha diferença, mas não me ofereça superproteção, indiferença nem compaixão, porque são esforços inúteis.

Se me oferece tudo isso serei completamente feliz e poderei fazer felizes todos ao meu redor.

Traduzido por Marco Antonio de Queiroz do site argentino: Taller de Teatro para Actores Ciegos, infelizmente hoje já inexistente. 

Como Designar Pessoas que Têm Deficiência?

     Sempre tive uma tremenda dúvida acerca da terminologia que designasse pessoas com deficiência, até mesmo na própria descrição do blog fiquei receioso de não utilizar a terminologia correta.
    Encontrei esse artigo do Marco Antônio Queiroz que com muita propriedade comenta acerca do uso dessas terminologias:

       A maioria das pessoas, inclusive as com deficiência, muitas vezes utilizam termos conceitualmente inadequados para designar pessoas que possuem alguma deficiência.
       Alguns desses termos, que um dia já foram oficiais, como "deficientes", pessoas deficientes", "portadoras de deficiência" ou "portadoras de necessidades especiais", persistem no tempo, na memória coletiva, sendo muitas vezes preservados e reafirmados pelos títulos de entidades civis e governamentais que não têm como se livrar de burocracias oficiais para atualizarem seus nomes. Um exemplo disso é a Associação de Assistência à Criança Defeituosa - AACD, hoje denominada Associação de Assistência à Criança Deficiente. Outro exemplo é o da própria CORDE como "Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência" que, após 20 anos com esse nome, recentemente passou de coordenadoria para o status de subsecretaria como Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, dessa vez, porém, sendo um bom exemplo de atualização.
      Para a jornalista Maria Isabel da Silva, em seu artigo "Por que a terminologia 'pessoas com deficiência'?", os termos utilizados possuem importância porque "Na maioria das vezes, desconhece-se que o uso de determinada terminologia pode reforçar a segregação e a exclusão.(...) e (...) "Além disso, quando se rotula alguém como "portador de deficiência", nota-se que a deficiência passa a ser "a marca" principal da pessoa, em detrimento de sua condição humana".
      Segundo Romeu Kasumi Sassaki, "a tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra "portadora" (como substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo "portar" como o substantivo ou o adjetivo "portadora" não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa. Por exemplo, não dizemos e nem escrevemos que uma certa pessoa é portadora de olhos verdes ou pele morena.". (livro Vida Independente: história, movimento, liderança, conceito, filosofia e fundamentos. São Paulo: RNR, 2003, p. 12-16).
      No histórico que Maria Isabel da Silva menciona em seu artigo, percebe-se que a terminologia foi se amoldando à sua época: "Até a década de 1980, a sociedade utilizava termos como "excepcional", "aleijado", "defeituoso", "incapacitado", "inválido"... Passou-se a utilizar o termo "deficientes", por influência do Ano Internacional e da Década das Pessoas Deficientes, estabelecido pela ONU, apenas a partir de 1981. Em meados dos anos 80, entraram em uso as expressões "pessoa portadora de deficiência" e "portadores de deficiência". Por volta da metade da década de 1990, a terminologia utilizada passou a ser "pessoas com deficiência", que permanece até hoje."
      Alguns argumentos são repetidos entre pessoas com deficiência a respeito das inúmeras designações atribuídas a elas, como a de que "deficiente" não se remete à deficiência que se tem, mas à qualidade de não ser eficiente.; que "pessoa deficiente" acentua uma qualidade de ineficiência na pessoa; que, caso se portasse uma deficiência, poderia-se deixá-la em casa e partir sem ela e que, assim, não se porta ou não uma deficiência, tem-se uma deficiência; que "portadores de necessidades especiais", após tanta luta pela igualdade na diferença, que ser "especial" exclui a pessoa do todo, da igualdade, remetendo-se somente à diferença. Por outro lado, "pessoa com deficiência" reproduz uma verdade, que é a de se ter uma deficiência, aliada ao fato de que essa deficiência é de uma pessoa. Dessa forma, pessoas com deficiência, alunos com deficiência, trabalhadores com deficiência é o que vem sendo utilizado por pessoas que se interessam pelo assunto e pelo conceito.
      A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pela Assembléia da ONU em 2006, assinada pelo Brasil e outros cerca de 80 países em 2007 e ratificada em 2008 pelo Congresso Nacional, foi criada por governos, instituições civis e pessoas com deficiência de todo o mundo e acabou por oficializar o termo "pessoas com deficiência" em seu próprio título, além de o reafirmar em todos os seus artigos, especialmente no artigo de número 1:
O propósito da presente Convenção é o de promover, proteger e assegurar o desfrute pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por parte de todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua inerente dignidade.
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas.
      Esse texto procura incentivar o uso da terminologia correta, oficial e proposta pelas próprias pessoas com deficiência que colaboraram na construção desse fantástico tratado de Direitos Humanos que é a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e que, aos poucos, vai se espalhando pelo mundo.
      Em geral, a pessoa com deficiência, que é caracterizada por sua fragilidade e não por suas qualidades, vai conseguindo se mostrar a todos, antes por ser pessoa do que por possuir uma deficiência. Entretanto este é um processo de lenta assimilação, onde a linguagem possui o seu papel de reveladora de conceitos, mitos, evolução e transformação. Dessa forma, o termo "pessoas com deficiência" está, nesse momento, revelando-se como um ponto da história em que pessoas que têm deficiências se integram à sociedade e esta as inclui.
      Assim, Maria Isabel da Silva, em seu artigo em que este texto foi baseado, expressa o papel da linguagem no revelar do olhar da sociedade sobre as pessoas com deficiência: " A construção de uma verdadeira sociedade inclusiva passa também pelo cuidado com a linguagem. Na linguagem se expressa, voluntária ou involuntariamente, o respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiência. Por isso, vamos sempre nos lembrar que a pessoa com deficiência antes de ter deficiência é, acima de tudo e simplesmente: pessoa."

Extraído do endereço: http://www.bengalalegal.com/pessoas-com-deficiencia

Ensaio Sobre a Cegueira

 
        Em busca de algum filme que me servisse como material, encontrei "Ensaio sobre a cegueira", é uma adaptação da obra de mesmo título do escritor José Saramago, o principal objetivo da obra é uma incessante busca pelo sentido de "ser humano", estabelecendo uma relação entre este "ser" dotado de sentidos (e preso a eles) e com uma outra possibilidade de existência, sem o sentido da visão. A reflexão produzida ao longo de filme é o estado natural do homem, como se a visão fosse o que o mantesse preso a vida em sociedade, dentro de certos padrões. Para mais detalhes, posto a sinopse do filme:


Direção: Fernando Meirelles
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Danny Glover, Alice Braga, Sandra Oh
Blindness, EUA, 2008, Drama, 118 minutos, 16 anos.

     Sinopse: Uma inédita e inexplicável epidemia de cegueira atinge uma cidade. Chamada de “cegueira branca”, já que as pessoas atingidas apenas passam a ver uma superfície leitosa, a doença surge inicialmente em um homem no trânsito e, pouco a pouco, se espalha pelo país. À medida que os afetados são colocados em quarentena e os serviços oferecidos pelo Estado começam a falhar as pessoas passam a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Nesta situação a única pessoa que ainda consegue enxergar é a mulher de um médico (Julianne Moore), que juntamente com um grupo de internos tenta encontrar a humanidade perdida. 


Mesmo que tenha pouquíssimos longas em seu currículo, o diretor Fernando Meirelles mais uma vez prova que é a melhor figura brasileira trabalhando no exterior. Ele surpreende com um longa diferente na sua estética e que não deve nada ao trabalho de José Saramago.

    O título acusa um filme sobre cegueira, mas ele não é bem isso. Não é apenas isso. Ensaio Sobre a Cegueira é uma história sobre a degradação da sociedade, os limites do ser humano, a falta de moralidade e o desespero atordoante. A doença misteriosa que atinge os seres humanos de uma população é mero pretexto para que uma análise do mundo em que vivemos seja feita. Ao mesmo tempo em que os personagens perdem a visão, o lado obscuro de suas respectivas almas vem à tona. Devido a essa temática difícil e a outros inúmeros fatores, o livro homônimo de José Saramago era considerado impossível de ser filmado, e as expectativas em torno do longa de Meirelles eram imensas. É um alívio, ao fim da sessão, constatar que o produto que acabamos de assistir é muito mais que uma missão cumprida, é uma história que ganhou vida própria em uma estética inovadora e diferente.
    Depois de comprovar competência com direções arrebatadoras nos longas Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel – esse último injustiçado nas premiações na categoria de direção – Fernando Meirelles mais uma vez dá orgulho. Em certas partes se limita apenas a fazer o básico e em outras consegue surpreender (a cena do estupro, apesar de reduzida, consegue mexer com os nervos do espectador), dando literalmente vida aos momentos que Saramago criou em sua obra. Mas óbvio que os méritos técnicos não são apenas do diretor. A fotografia branca de César Charlone (ainda bem que colocaram legendas amarelas!) tem sim seus momentos de irregularidade. Contudo, eu quero que alguém me diga quando foi a última vez que uma fotografia tão intrigante como essa foi apresentada? Temos também a bonita trilha de Marcos Antônio Guimarães, que faz lembrar bastante a sonoridade da canção Proven Lands que Jonny Greenwood compôs para Sangue Negro. Eu esperava mais desse setor de Ensaio Sobre a Cegueira, que podia ter criado passagens mais inspiradas como o trailer sugeria.
     Ensaio Sobre a Cegueira também é o esperado retorno de Julianne Moore após tantos erros desde sua última aparição no Oscar. Não podia ter um retorno mais recompensador, fazendo com que nós esqueçamos todas as bobagens que ela fez nos seus últimos caminhos. Julianne não cai em excessos, representando a “esperança” do longa da forma mais adequada possível. Nada de berros ou choros compulsivos, a  grande presença dela no longa está em cada olhar triste, em cada expressão de desespero. Ela é a estrela do filme e nenhum outro ator do elenco alcança a mesma qualidade. Eles não têm momentos individuais muito marcantes, mas como um todo funcionam de forma excelente. Danny Glover tem um pouco mais de presença por ter uma ou outra narração. Narrações, aliás, que foram reduzidas. Mas mesmo assim ficaram fora de contexto no longa, não representando muita coisa.
     O escritor do livro ficou emocionado ao fim da sessão quando assistiu ao longa. Nada mais justificável. Eu estaria completamente realizado se eu tivesse visto um filme tão competente que foi baseado em uma obra minha. O roteiro segue exatamente o livro, sem grandes liberdades mas ainda excepcional em sua narrativa. É visível que o longa é comprido (são duas notáveis horas), entretanto, é algo necessário para que a história seja contada da forma mais fluente possível. O livro de Saramago está ali, em um filme que não deve nada para a obra. Desde já, um dos melhores do ano.

Extraída do endereço: http://cinemaeargumento.wordpress.com/2008/09/12/ensaio-sobre-a-cegueira/

domingo, 12 de junho de 2011

Experimento I - Fotos











Domínio do Movimento - Lában



Ontem, iniciei a leitura do livro “Domínio do Movimento”, autoria de Rudolf Lában (edição organizada por Lisa Ullmann) e tradução de Ana Maria Barros. Destaquei alguns trechos que acredito ser importante compartilhar com artístas e não-artístas interessados no estudo do movimento, além de constituir um referencial teórico essencial para a pesquisa que estou desenvolvendo:

SOBRE O AUTOR:

RUDOLF Laban nasceu na Bratislava, então pertencente à Hungria, em 1879.
Por não aceitar o vazio existente nas peças de teatro e dança dessa época, trouxe para seu trabalho o resultado das próprias paixões e lutas interiores e sociais, representadas por personagens simbólicas ou estados de espírito puros, vividos através do movimento, utilizado de maneira mais espontânea e sempre como resultado consciente da união corpo-espírito.
Criou vários centros de pesquisa buscando o retorno aos movimentos naturais na sua espontaneidade e riqueza, e na plena vivência consciente de cada um deles, a acarretar um desenvolvimento amplo e profundo em quem o pratica. Certo de que o movimento humano é sempre constituído dos mesmos elementos, seja na arte, no trabalho, na vida cotidiana, empreendeu um estudo exaustivo sobre estes elementos constitutivos e sua utilização, dando ênfase tanto à parte fisiológica, quanto à parte psíquica que levam o homem a se movimentar.
Desenvolveu uma notação de movimento capaz de registrar qualquer um de seus tipos, a "Kinetography Laban", conhecida nos EUA como Labanotatíon.
Bailarino, autor de várias coreografias famosas, renovador da dança e de seu enfoque teatral, com grupos profissionais de onde saíram os mais importantes nomes da dança expressiva européia, diretor de movimento da Ópera Estadual de Berlim e outras, dirigiu seu trabalho principalmente para a dança, como meio de educação.

TRECHOS DESTACADOS:

"O HOMEM se movimenta a fim de satisfazer uma necessidade. Com sua movimentação, tem por objetivo atingir algo que lhe é valioso. É fácil perceber o objetivo do movimento de uma pessoa, se é dirigido para algum
objeto tangível. Entretanto, há também valores intangíveis que inspiram movimentos." (P. 19)

"O movimento, portanto, revela evidentemente muitas coisas diferentes. É o resultado, ou da busca de um objeto dotado de vaior, ou de uma condição mental. Suas formas e ritmos mostram a atitude da pessoa que se move numa determinada situação. Pode tanto caracterizar um estado de espírito e uma reação, como atributos mais constantes da personalidade. O movimento pode ser influenciado pelo meio ambiente do ser que Se rnove." (P. 20)

"O movimento, em dança pura, não necessita adaptar-se aos caracteres, às ações, às épocas e às situações, mas o faz na dança-mímica que, virtualmente, uma ação sem palavras, embora muitas vezes apoiada num fundo musical (...) Nesta, o impulso interior para o movimento cria seus próprios padrões de estilo e de busca de valores intangíveis e basicamente indescritíveis.
A arte do movimento no palco incorpora a totalidade das expressões corporais, incluindo o falar, a representação, a mímica, a dança e mesmo um  acompanhamento musical." (P. 23)

"Há mais coisas sob o manto da cooperação audiência-atores do que o divertimento proporcionado pela contemplação da miséria e da loucura humanas, um dos olhos rindo, o outro chorando. O teatro espelha mais do que nosso cotidiano de sofrimentos e alegrias." (P. 25)

"O teatro dá um ‘insight’ na oficina na qual o poder de reflexão e de ação do
homem é gerado. Esse "insight" proporciona mais do que uma compreensão mais rica da vida: oferece a experiência inspiradora de uma realidade que transcende a nossa, feita de medos e satisfações. O que realmente acontece no teatro não se dá apenas no palco ou na platéia, mas no âmbito de uma corrente magnética entre esses dois pólos. Os atores no palco, constituindo o pólo ativo desse circuito magnético, são responsáveis pela integridade d' propósito segundo o qual está sendo encenada a peça. Depende disto a qualidade da corrente estimulante entre palco e audiência. (P. 26)

Fechamento do Instituto Benjamin Constant

Como poucos sabem, o MEC decidiu fechar até o final do ano o Instituto Benjamin Constant, uma Escola de Ensino Regular Especializada na Educação de Cegos, com turmas que vão desde a Estimulação Precoce até o 9º ano (antiga 8ª série) do Ensino Fundamental, e com atendimento especializado realizado com os reabilitandos (videntes - pessoas que enxergam -  que ficaram cegos por alguma razão). O fato saiu no jornal O Globo inclusive, mas não chegou a ser a grande notícia da semana, pois poucos sabem o significado da instituição para o país. Não somente querem fechá-lo, mas também ao INES (para surdos) e ir aos poucos acabando com as escolas especializadas em educação especial, qualquer que seja a necessidade. Em nosso país o sistema de ensino não consegue suprir as necessidades dos alunos regulares, quem dirá dos especiais. Cansamos de ver escolas com falta de material, falta de professores e que carecem de meios para que se tenha controle dos alunos e lhes ensinem valores morais já esquecidos na sociedade atual, e ainda entra em cena o "bullying" (palavra tão usada ultimamente) que emerge desta impotência moral iniciada no ambiente escolar.
No Instituto, as crianças se sentem parte de um todo, não sofrem preconceitos mas saem de lá prontas para enfrentá-los, prontos para enfrentar nosso mundo de videntes egoístas. Lá elas aprendem a andar sem cair ou bater em objetos, aprendem a comer, têm esportes específicos, desde pequeninos são estimulados. Alguns dos alunos inclusive passam a semana no Instituto, são alunos internos do Benjamin Constant. Alguns alunos são Internos porque os pais não têm condições de levar e buscar, seja por dificuldades financeiras ou de trabalho (as aulas são em tempo integral). Com cuidadores para auxiliá-los a semana toda, dormitórios estruturados, refeições bem preparadas pelas "tias da cozinha" e elaboradas por nutricionistas.
Algumas crianças só têm na vida o Instituto. Pode parecer que estou exagerando, mas não é. A maioria das crianças não são somente cegas, algumas têm doenças degenerativas , ou seja, a doença vai piorando a um estado...que...enfim. No IBC é onde elas são aceitas e têm assistência de profissionais capacitados. Só tentar descrever pelo e-mail é complicado, aconselho que tirem um dia e visitem o Instituto. Estar presente e até mesmo fazer trabalho voluntário lá pode mudar o jeito que temos de ver a vida, e com sorte nos tornar pessoas melhores. Geralmente só percebemos diferentes situações fora de nosso círculo social quando nos afeta de alguma maneira. Quem tem alguém especial por perto sabe das dificuldades que enfrentamos, bate de frente com o preconceito, a desigualdade e o descaso que cai sobre eles. Nosso principal objetivo com este e-mail é conscientizar as pessoas, principalmente os cariocas, da importância desse centro de referência para cegos de todo o Brasil. E é um motivo de orgulho para nós termos tal instituição que capacita tão bem seus alunos. Vamos lutar contra esse absurdo de fechar o IBC! Se quiser colaborar, agradecemos muito!
 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Quarto escuro - Carlos Drummond de Andrade


Por que este nome, ao sol? Tudo escurece
de súbito na casa. Estou sem olhos.
Aqui decerto guardam-se guardados
sem forma, sem sentido. É quarto feito
pensadamente para me intrigar.
O que nele se põe assume outra matéria
e nunca mais regressa ao que era antes.
Eu mesmo, se transponho
o umbral enigmático,
fico a ser, de mim desconhecido.
Sou coisa inanimada, bicho preso
em jaula de esquecer, que se afastou
de movimento e fome. Esta pesada
cobertura de sombra nega o tato,
o olfato, o ouvido. Exalo-me. Enoiteço.
O quarto escuro em mim habita. Sou
o quarto escuro. Sem lucarna.
Sem óculo. Os antigos
condenam-me a esta forma de castigo.

Carlos Drummond de Andrade (Itabira, Minas Gerais, 31 de outubro de 1902 - Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987) - Considerado um dos maiores poetas brasileiros, autor de uma vasta obra poética, que também inclui contos e crônicas. Morou no Rio de Janeiro a maior parte de sua vida, onde, foi funcionário público. Foi traduzidos para vários idiomas e é uma referência fundamental na poesia brasileira.